Introdução
O Hawker Tempest II foi um desenvolvimento da série de super caças da Hawker para a Real Força Aérea que tem origens no Typhoon, ainda em 1938. Embora muito bem-sucedido, o Typhoon sofria de uma grande limitação de velocidade em função do perfil escolhido para as suas asas. A solução encontrada pela equipe de Sydney Camm foi adaptar uma nova asa, de fluxo laminar. Um novo nome, Tempest, foi atribuído a essa variante.
As dúvidas sobre o motor Napier Sabre que equipava os Typhoon ainda eram bastante presentes quando da concepção do Tempest, que desde o início foi encomendado com uma variedade de motorizações.
A primeira opção (Tempest I) era o Sabre IV. O radial Bristol Centaurus IV equiparia o Tempest II, o Rolls Royce Griffon IIB (depois o 85) equiparia o Tempest III, o Griffon 61 o Tempest IV e o Sabre II – o mesmo que equipava os Typhoon já operacionais – equiparia o Tempest V.
Não surpreendentemente, o Sabre II já estava maduro o suficiente e em produção, e acabou sendo a motorização adotada pelos primeiros Tempests operacionais a partir de 1944. Somente esses viriam a ser empregados em combate na II Guerra.
O Sabre IV e a adaptação dos Griffon ao Tempest resultaram no cancelamento dos projetos dos Tempests I, III e IV. Já a variante equipada com o Centaurus demonstrou excelente potencial, resultando num avião mais limpo aerodinamicamente e mais veloz. Junto com uma nova variante equipada com o Sabre V que recebeu o nome de Tempest VI, esse seria o caça britânico que substituiria os temporários Tempest V assim que possível.
Com o fim da Guerra na Europa, os Tempest II foram designados para servirem como parte do Comando de Caça na defesa das Ilhas e nas forças de ocupação na Europa (BAFO). Um destacamento seria enviado para o Extremo Oriente para tomar parte na Tiger Force, criada para apoiar a invasão do Japão. Para essa operação algumas adaptações se fizeram necessárias, como a adoção de um filtro de ar “tropical” para operação a partir de bases avançadas, reforços estruturais nas asas para receberem foguetes, bombas e tanques auxiliares e a instalação de garrafas de água à ré do cockpit como parte de um kit de emergência.
Os Tempest II baseados na Europa foram substituídos ao longo de 1949 por jatos Vampire. Um único esquadrão, o 33, manteve seus Tempest II por mais algum tempo, sendo enviados para a Malásia onde cumpriram missões enfrentando a guerrilha comunista local entre 1949 e 1951, quando seriam substituídos por DH Hornets.
Depois do fim da Guerra, 180 dos 452 Tempests II produzidos foram baseados na Índia e Paquistão. Após a independência desses países, os Tempests II lá localizados foram cedidos para a formação das novas forças aéreas. Várias das células baseadas na Europa foram reformadas e vendidas para Índia e Paquistão, que os empregaram nos conflitos de fronteira que se seguiram às independências. Por volta de meados dos anos 1950 os últimos Tempests II indianos e paquistaneses foram descarregados. Alguns sobrevivem em museus e coleções particulares até hoje.
O kit
O kit consiste em oito árvores de peças em poliestireno injetado (das quais duas são transparentes), uma folha de peças fotogravadas coloridas, uma folha de máscaras autoadesivas pré-cortadas, manual de instruções e um livro de referência. Todo esse material vem acondicionado separadamente em sacos plásticos reusáveis dentro de uma ampla caixa em cartolina com tampa separada, esta plastificada e ostentando uma bela ilustração de um Tempest II em ação.
Nesta Edição Limitada da Eduard, a grande atração é o livro “The Ultimate Tempest” que o acompanha. O livro é assinado por Christopher Thomas, uma das maiores autoridades mundiais sobre a família Typhoon / Tempest e autor de diversos outros livros sobre esses aviões. O livro tem 80 páginas em tamanho A4, impresso em papel de ótima qualidade e com excelente acabamento. Os textos são concisos e todos em inglês. As fotografias são muito abundantes e com ótimas legendas, o que amplifica sobremaneira a experiência da leitura.
Os capítulos tratam da concepção e desenvolvimento do Tempest II, camuflagem e marcações dos diversos operadores, um histórico da atuação do Tempest II nos diversos teatros onde foi empregado, as biografias de alguns pilotos notáveis do Tempest II e uma seção com detalhes, em parte retirada dos manuais da aeronave. Uma referência excelente e que merece fazer parte da coleção de qualquer aficionado pelo Tempest em particular e pelos aviões de sua época.
Além do livro e dos decais com outras opções de decoração, o kit contém essencialmente as mesmas peças oferecidas pelas edições Profipack # 82124 – Tempest Mk.II early version e #82125 – Tempest Mk.II late version. Ambos os kits foram objeto de reviews pela APRJ e podem ser acessados, respectivamente, nos links #82124 e #82125. Uma novidade desta Edição é a possibilidade de se montar modelos de ambas as versões do Tempest II.
Com relação aos kits do Tempest V, temos três árvores totalmente novas, com as asas (J), fuselagem (K) e uma com peças específicas para o Tempest II (L). As árvores A, D, E, F e G são comuns a ambos os kits.
Uma evolução notável foi a tentativa de resolver o que, na minha humilde opinião, é o maior problema do kit dos Mk.V: a estranha emenda nos flaps das asas provocada pela tentativa de manter o fillet do bordo de fuga o mais afiado possível. No kit do Tempest II, na árvore J essa emenda acontece muito mais próxima do bordo de fuga, o que deve melhorar sobremaneira a aparência das asas montadas sem a necessidade de retrabalhar intensamente a área – ou adquirir algum acessório. Outro aspecto relevante da asa do Tempest II foi a opção de moldar o pitot integrado ao bordo de ataque da asa, o que muito provavelmente acabará resultando em algum tipo de acidente durante a montagem para vários modelistas.
O motor Centaurus é apresentado de forma muito esquemática, apenas um painel, que pintado adequadamente deve proporcionar um efeito suficiente em uma montagem “curbside” como a proposta pelo kit. Modelistas muito minuciosos podem desejar superdetalhar o motor, mas francamente isso só será um esforço válido se se desejar exibi-lo com a capota aberta – assunto para um grande conjunto de detalhamento ou um trabalho de mestre em scratch.
Os painéis de instrumentos do cockpit são ligeiramente diferentes entre os Tempests V e II, e o kit oferece as peças necessárias para representar essas diferenças – que de qualquer forma são pouco visíveis a olho nu e perceptíveis apenas por olhares treinados de especialistas em caças da Hawker do período. O kit oferece, como de costume, a opção de se montar os painéis em plástico, pintá-los e adicionar decais para representar os instrumentos – o que proporciona um visual mais “3D” – ou usar fotogravados pré-pintados, que dão um acabamento excelente para a escala e talvez um pouco menos de trabalho (para os que estão acostumados com fotogravados, pelo menos). Uma opção ainda menos trabalhosa é adquirir um conjunto de painéis “pronto”, como os da linha Zoom da Eduard.
O diferencial mais notável dos Tempest II “early”, como chama a Eduard, reside na ausência das aberturas para o filtro de ar “tropical” na parte superior da fuselagem, logo à ré do motor e à vante do tanque de combustível e do cockpit. Esse detalhe é representado pelas peças L5 (sem filtro) ou L4+PE35 (com filtro e detalhe adicional em fotogravado). Outro ponto de identificação da versão “early” é a ausência do tanque duplo de água localizado no cockpit, logo à ré da placa de blindagem para a cabeça do piloto. Elas são representadas pelas peças L19 e L29, que somente devem ser adicionadas na versão “late”.
De resto, as normais diferenças de equipamentos subalares como tanques de combustível suplementares e foguetes RP-3 de 60 libras. Esses itens eram intercambiáveis de acordo com a missão e são oferecidos para o modelista fazer as suas escolhas com base nas instruções e referências.
A folha de fotogravados tem o mesmo conteúdo das oferecidas nas demais edições do Tempest II, mudando apenas o título da folha que identifica o kit do qual faz parte. O mesmo se aplica à folha de máscaras adesivas pré-cortadas. Ambos os itens seguem a tradicional qualidade da Eduard, impecáveis.
Os decais são divididos em duas folhas exclusivas, com estênceis e marcações comuns aos Tempest II e marcações específicas para cada uma das dez opções de montagem. A impressão é perfeita e as cores aparentemente corretas. Os decais do nosso exemplar foram fabricados com a mais recente tecnologia da Eduard, que permite a retirada do filme do decal, deixando apenas a “tinta” e um acabamento excepcional. Esse sistema tem causado alguma polêmica, com vários modelistas relatando problemas quando da remoção da película. Ainda não tive a oportunidade de experimentar essa implementação da Eduard, mas por via das dúvidas é prudente ter alguma prática com essa nova tecnologia antes de usá-la de forma definitiva num modelo.
O manual de instruções é composto por 24 páginas com impressão a cores em papel couché e formato A4. O manual apresenta instruções básicas de segurança, simbologia, um mapa das peças, uma tabela de cores referenciada com as tintas para as linhas da GSi Creos (Gunze Sangyo) e Mission Models, as instruções de montagem e o mapa de aplicação das máscaras de pintura e ilustrações dos dez esquemas de pintura e o esquema de aplicação dos decalques e dos estênceis do avião, tudo muito claro e bem impresso seguindo o padrão já tradicional da Eduard. Clique aqui para fazer o download do manual.
Opções
Dez opções de decoração são oferecidas para o modelista. Três delas são de aviões “early” (1, 2 e 3) e sete para Tempests “late” (4 a 10):
1 – MW835, W/Cdr Charles H. Dyson, CO do Southern Sector, RAF Middle Wallop, Hampshire, Grã-Bretanha, 1946
2 – MW800, S/Ldr Frank W. M. Jensen, CO do No. 54 Squadron, RAF Chilbolton, Hampshire, Grã-Bretanha, junho de 1946
3 – PR527, RDF (Radio Direction Finding), R&D Unit, Chakeri, India, Janeiro de 1947
4 – PR736, S/Ldr Dennis C. Usher, CO do No. 16 Squadron, BAFO, Fassberg, Alemanha, 1946–1948
5 – PR788, S/Ldr R. N. G. Allen, No. 33 Squadron, Operação Firedog, Kuala Lumpur, Malaysia, Fevereiro de 1948
6 – PR674, W/Cdr Frank R. Carrey, CO da No. 135 Wing, BAFO, Fassberg, Alemanha, Agosto de 1948 – fevereiro de 1949
7 – A139 (ex PR809), No. 14 Squadron, Royal Pakistan Air Force, Paquistão, 1949
8 – HA547, No. 7 Squadron, Royal Indian Air Force, Índia, 1949
9 – HA426, No. 7 Squadron, Royal Indian Air Force, Jammu, Índia, dezembro de 1948
10 – PR836, F/Lt Michael P. O. Blake, No. 3 Squadron, Royal Indian Air Force, Kolar, Índia, 1946–1947
Em conjunto temos um interessante painel dos diversos teatros e épocas nas quais os Tempest II foram empregados: No Comando de Caça da RAF, baseado nas Ilhas Britânicas (Opções 1 e 2), Força Aérea Britânica de Ocupação na Europa (BAFO), opções 4 e 6, RAF na Índia (opção 3), Operação Firedog – Contra insurgência na Malásia (opção 5), Real Força Aérea Paquistanesa (opção 7) e Real Força Aérea Indiana (opções 8, 9 e 10).
Boa parte deles ostentam a camuflagem padrão Ocean Grey / Dark Green / Medium Sea Grey, ao passo que alguns são pintados com alumilack e o avião paquistanês é pintado com o esquema de deserto Dark Earth / Middle Stone / Azure Blue. Cada uma tem o seu charme e é plenamente justificável investir um pouco mais e adquirir um overtree e alguns outros itens para aproveitar melhor a folha de decais.
Conclusões
Pelo livro que o acompanha, trata-se de um kit absolutamente indispensável para os modelistas interessados na história do Tempest II – dos mais avançados caças com motor a pistão jamais construídos.
As dez opções de decoração e os itens do kit permitem a construção de um modelo rico em detalhes que completará qualquer coleção de caças representativos operados pela RAF e forças aéreas da Índia e Paquistão no período imediatamente posterior à II Guerra Mundial.
Aproveite e garanta o seu o quanto antes!