PZL P.11c with bombs Version 1/48 – Mirage Hobby #481002
Introdução
Zygmunt Puławski, polonês de Lublin nascido em 1901, graduou-se engenheiro pela Universidade de Tecnologia de Varsóvia em 1925. Lá envolveu-se com o projeto de planadores e com o diploma estagiou por algum tempo na França, na conceituada Breguet. De volta à Polônia prestou seu serviço militar na Escola de Aviação de Bydgoszcz, onde recebeu seu brevê. A partir de 1927 tornou-se projetista na então CWL (Centralne Warsztaty Lotnicze , Oficinas Centrais de Aviação), que pouco tempo depois seria reorganizada na estatal PZL (Państwowe Zakłady Lotnicze, Fábrica Estatal de Aviação).
Seu primeiro projeto na PZL foi o de um caça monoplano inteiramente metálico, o P.1. Este avião, que trazia uma série de inovações para a época, foi considerado um dos mais modernos caças do mundo quando voou pela primeira vez em 1929. Seu principal atrativo era uma asa em forma de gaivota, que viria a ser chamada “Asa Puławski”, que combinava uma boa eficiência aerodinâmica, estrutura extremamente resistente e proporcionava uma excelente visão para o piloto. Essa configuração apareceria em diversos caças nos anos seguintes, como o Loire 43/45/46, o Ikarus IK-2, o Aero A.102 e o biplano Polikarpov I.153.
Puławski preferia motores em linha, mas o Governo Polonês preferia motores radiais. A adaptação para o emprego do um motor Bristol Jupiter ao redesenho da fuselagem e à incorporação de mais inovações, como um tanque de combustível alijável em caso de incêndio. O PZL P.7a, que incorporava essas alterações, foi o primeiro caça de Puławski a entrar em serviço na Força Aérea Polonesa a partir de 1933. Além de 2 protótipos, 149 P.7 foram entregues e serviram na Invasão Alemã de 1939.
O P.11 foi o resultado da adaptação do motores Bristol Mercury, mais potentes. 30 P.11a foram entregues a partir de 1933 e mais 175 P.11c entre 1934 e 1937. O P.11c foi a variante mais produzida e constituía a espinha dorsal da força de caças polonesa em agosto de 1939.
O primeiro avião alemão abatido na Guerra foi vítima de um P.11; e o primeiro avião aliado perdido também foi um P.11. Além das missões de caça, especialmente nos últimos dias do conflito para os poloneses, alguns P.11c foram usados em missões de ataque às colunas alemãs, lançando bombas de 12,5 kg.
Alguns poucos P.11c eram dotados de rádios; a maioria dos caças poloneses comunicavam-se da forma tradicional, por meio de gestos dos pilotos e balançares das asas. Em função do peso, os P.11c equipados com rádios eram normalmente dotados de apenas duas metralhadoras (as metralhadoras das asas eram removidas) e, quando o caso, somente transportavam duas das 4 bombas inicialmente previstas, uma sob cada asa.
Pouco antes da derrota final da Polônia, 36 P.11 foram evacuados com seus pilotos para a Romênia, que internou as aeronaves. Os pilotos em boa parte seguiram para a França e depois para a RAF, onde fizeram uma carreira brilhante no restante da Guerra.
Somente um PZL P.11 original sobrevive. Capturado pelos alemães em 1939 e exibido como presa de guerra, o 8.63 foi repatriado e encontra-se em exibição no Museu da Aviação Polonesa (Muzeum Lotnictwa Polskiego), em Cracóvia. Trata-se de um exemplar dotado de rádio, 4 metralhadoras e duas bombas de 12,5 kg que operou na Esquadra 121 da III/2 Divisão em 1939, a partir da Base de Cracóvia/Rakowicze.
Pouco antes de o P.11 fazer seu primeiro vôo, ainda em 1931, Zygmunt Puławski perdeu a vida em um acidente enquanto testava o protótipo do aerobote PZL P.12, também um projeto seu.
O projeto do P.11 foi concluído pela equipe da PZL chefiada por Wsiewołod Jakimiuk, que ainda prepararia os projetos do PZL P-24 e do PZL P-50 Jastrząb antes de serem evacuados para a França dias depois da invasão alemã. Na França, Jakimiuk trabalharia na SNCASE antes de seguir, novamente empurrado pela guerra, para a DH Canada. No Canadá Jakimiuk participou da construção local dos Avro Anson, T-6 Harvard e DH Mosquito durante a Guerra e do desenvolvimento dos DH Chimpunk, Otter e Beaver, além do DH-112 Sea Venom ao retornar à Europa. De volta à SNACASE, foi consultor nos anos 50 do projeto do Caravelle e um dos membros da equipe que desenvolveu o Concorde nos anos 60. Aposentado em 1972, Jakimiuk faleceu em 1991.
O kit
O kit do PZL P.11c da Mirage na escala 1/48 é um velho conhecido dos modelistas, sendo considerado o melhor kit deste avião na escala. Algumas edições do kit básico foram lançadas ao longo do tempo, permitindo montar algumas variantes representativas. Recentemente uma outra edição deste kit (#900002) foi objeto de um review nosso da APRJ (veja aqui).
Esta edição (#481002) apresenta especificamente o P.11c equipado com bombas, e para isso traz um pequeno par de árvores contendo quatro bombas de 12,5 kg. Os cabides das bombas fazem parte da folha de fotogravados que acompanha o kit. Esta é uma edição particularmente interessante pois contém todos os elementos e decais para montar um modelo do exemplar que está no Museu de Cracóvia.
O kit consiste, além das bombas e da folha de fotogravados já mencionados, de duas árvores em estireno cinza, um para-brisas em estireno transparente, um pequeno radiador em metal branco e uma folha de decais que permite escolher uma de duas decorações. Um folheto de instruções completa o kit, que vem acondicionado em uma boa caixa com tampa e uma interessante ilustração do avião do Museu em ação (infelizmente não emoldurável). As árvores vêm embaladas juntas em um saco de celofane e as demais peças e a folha de decais estão em pequenos sacos plásticos ziploc.
O kit apresenta uma engenharia convencional, com a asa superior inteiriça – o que permite um diedro correto, e fuselagem em duas metades. Os profundores são separados. As linhas de painel, especialmente as da fuselagem, são um pouco “espessas”, mas nada que uma pintura aplicada de forma criteriosa não resolva. Por outro lado, considero que o corrugado típico de várias áreas do PZL está bem representado para a escala. As superfícies das peças em plástico apresentam uma ligeira rugosidade certamente herdada do processo de fabricação dos moldes; creio que um simples polimento com uma lixa fina nas partes lisas (como na fuselagem) propiciará um acabamento superior. Um ponto que me chamou a atenção está nos montantes das asas, que carecem de alguma forma mais positiva de encaixe nas superfícies inferiores das asas– somente uma “interrupção” do corrugado das asas dá uma pista para o posicionamento dessas peças. Espero que as peças oferecidas sejam dimensionalmente exatas – caso contrário problemas de alinhamento podem surgir.
O cockpit é montado separadamente em torno de uma “gaiola” em estireno e é bastante completo. A área em torno do motor vem separada do resto da fuselagem e permite (pede?) que vários dos elementos oferecidos sejam de alguma forma melhorados para uma representação mais fina dos intrincados detalhes da área. Destaco os “vazados” no peculiar revestimento da transmissão entre a hélice e o motor, que são “fechados” no kit. Um cuidadoso trabalho de furação e limagem da peça (#3) certamente agregará bastante valor ao modelo acabado. O motor em si traz os seus detalhes superficiais não muito refinados, mas aparentemente adequados pois pouco se vê do Bristol Mercury montado.
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O para-brisas consiste em uma peça única em estireno transparente. Essa peça poderá se beneficiar de algum retrabalho visando afiná-la ou pelo menos receber um mergulho em verniz para aumentar um pouco mais a sua transparência. O espelho retrovisor, bastante visível nos P.11c, não é fornecido – o modelista terá que fabricar um em scratch, felizmente uma peça pequena e fácil de reproduzir. O kit não traz máscaras para as transparências, mas o pequeno tamanho e forma dos “vidros” fazem com que este não seja um grande desafio para o modelista.
Uma pequena peça em metal branco faz o radiador de óleo, que é fixado na lateral de boreste da fuselagem. O detalhamento da peça é bastante bom, embora alguns modelistas possam preferir fazer a mesma peça em fotogravado ou com folhas de estireno e arame fino para máxima acurácia. Em edições antigas do kit da Mirage essa peça era em resina. As instruções orientam para se desbastar a base da peça de modo que ela fique com uma espessura de 2,0 mm, o que equivalerá a pouco mais que nivelar a base da peça – ela tem no máximo 2,5 mm de espessura. De qualquer maneira, é prudente separar ferramentas para segurar e limar a peça (é um retângulo de 8×6 mm).
A folha de fotogravados é pequena (4,3 x 3,5 cm) mas repleta de peças. Nela encontramos o painel de instrumentos (que é complementado por uma folha de instrumentos impressa em filme, à moda antiga), cintos de segurança, apoios de pés no cockpit, cabides das bombas, atuadores dos ailerons, diversas tampas de painéis de inspeção, as alças de mira, os pequenos mastros de suporte das antenas de rádio, os tirantes de trem de pouso e a cinta de suporte dos tanque de combustível.
As bombas de 12,5 kg vêm em duas pequenas árvores, permitindo fazer a carga máxima do PZL.11c de 4 bombas. São duas pequenas peças, uma com o corpo da bomb e outra com as aletas, modadas de forma inteiriça. O único cuidado diz respeito justamente às aletas, que podem destacar-se da árvore e ficarem perdidas na embalagem.
Alguns pequenos detalhes devem ser confeccionados em scratch, como as alças de fixação dos pés nos pedais dos lemes de direção. A fiação das antenas do rádio também deverá ser fornecida pelo modelista. Creio que as alças para embarque no cockpit (peças #18 e #19), fixadas logo abaixo do para-brisas, poderão ser substituídas com vantagem por pequenos pedaços de arame fino, dobrados e cortados de acordo.
Os decais, segundo alguns relatos, são produzidos pela Techmod (embora não haja indicações disso na folha). Eles são aparentemente finos, em perfeito registro e suficientemente opacos – embora um veredicto somente seja possível após a sua aplicação. As insígnias polonesas a serem aplicadas nas asas e no leme de direção, em particular, devem ser alvo de uma cuidadosa preparação em função do corrugado da superfície – ou pintadas. Como há uma certa controvérsia sobre a cor do emblema da Eskadra 114 (uma andorinha sobre um triângulo deitado), assim dois pares de decais – um com fundo branco e outro com fundo azul-claro – são oferecidos. Um insert na folha traz uma coleção de algarismos em preto, branco e vermelho para fazer o número de série de diferentes aviões.
As instruções consistem de 4 páginas formadas por uma folha A4 dobrada ao meio, em papel de boa qualidade e impressa em preto e branco. A face “externa” apresenta um bom histórico do PZL P.11c, diagramas em 4 vistas de ambos os esquemas de decoração propostos, informações históricas sobre cada uma das opções e uma boa lista de referências bibliográficas. A face interna traz as instruções para a montagem do kit na forma de diagramas e uma lista com as tintas sugeridas para a pintura, com os nomes genéricos e os códigos das gamas Humbrol e Vallejo Model Color. Todos os textos são apresentados em polonês e inglês. A única crítica que posso fazer sobre as instruções é que fatalmente o texto e as ilustrações acabaram ficando muito diminutos por causa do espaço exíguo para tanta informação. De resto, excelente e muito bem pesquisado e apresentado.
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Opções
- “Branco 2” – Eskadra 121, III/2 Divisão, Cracóvia-Rakowicze, 1939. Exemplar equipado com rádio, quatro metralhadoras e duas bombas de 12,5 kg. As marcações pertencem ao avião do 2º Tenente Wacław Król, subcomandante da Eskadra e são as ostentadas pelo único PZL P.11c original remanescente, que está no Museu da Aviação Polonesa em Cracóvia. Król encerrou sua participação na Campanha Polonesa com ½ Dornier 17, vitória compartilhada outro piloto em 5 de setembro.
- “Branco 4”, Eskadra 114, IV/1 Divisão, Varsóvia, 1939. Dotado com rádio e apenas duas metralhadoras. Pilotado pelo 2º Tenente Tadeusz Sawicz, que neste avião abateu um Dornier 17 em 4 de setembro e compartilhou com outros 2 pilotos o abate de mais um Do 17 dois dias depois. Após escapar da Polônia, Sawicz teve destacada atuação no restante da Guerra, participando da Campanha da França e dos famosos esquadrões 303 e 316 da RAF e do 56th FS da USAAF. Dias antes, em 1º de setembro, o Tenente Aleksander Gabszewicz obteve a primeira vitória polonesa da Guerra em parceria com o Cabo Andrzej Niewiara. Gabszewicz na ocasião era o Oficial Tático da IV/1 e possivelmente voou este avião naquela missão. Gabszewicz também escapou para a França e depois para a Inglaterra, combatendo com distinção até o final da Guerra.
Conclusões
Segundo alguns relatos em fóruns especializados, este kit foi desenvolvido em uma parceria entre a Mirage Hobby e a Techmod polonesas, após extensa pesquisa e colaboração. O resultado foi sem dúvidas o melhor kit 1/48 do PZL P.11c do mercado, um avião de grande relevância histórica e que carecia de um kit moderno na escala.
Esta edição traz como diferencial a inclusão das bombas de 12,5 kg usadas em algumas missões pelos P.11c, e que estão instaladas no único exemplar sobrevivente no Museu de Cracóvia. O kit traz os decais necessários para replicar exatamente esse avião. A outra versão proposta também tem grande interesse histórico por permitir fazer uma “montaria” de importantes pilotos da Força Aérea Polonesa.
Pretendo montar em breve este kit, e recomendo-o para modelistas com alguma experiência para superarem as naturais dificuldades que um kit assim apresenta, como o uso de fotogravados e metal branco, superfícies corrugadas e montantes nas asas e profundores.
Obrigado à Mirage Hobby pelo envio dos exemplares para review!